Quando descansou do livro, lembrou-se da carta da mulher, a outra enfim distante, e foi tomado pelo alívio. Há quanto tempo não se sentia desse jeito, somente em sua própria companhia?
Aquela fora uma mulher plena de palavras, tantas vezes implacável em sua busca obsessiva pela clareza, pela verdade. Coisa atroz essa necessidade de consciência em uma mulher! Foi assim que seu desejo pelo corpo dela extinguiu-se, lembra-se do exato momento em que se quebrou dentro dele a fascinação, que imaginara eterna, por aquelas costas em tons de oliva, ah! perfeitas. Olhou e conteve a mão que domesticada já se estendia. Ela coração clarividente de imediato soube.
Entraram juntos no tempo que não é mais. Juntos viveram em dolorosa solidão a espera do que ainda não é.
Exausto pela breve memória, retoma a leitura, ansiando por palavras de outros mundos. Na verdade, este homem sempre ansiara por ler, nunca por ser lido.
(Imagem: Hopper, O homem e a leitura)
[Escrito por Denise após a troca de 'cartas' com o amigo Dan]
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